sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Berço do Bolsa Família tucano, cidade de AL rejeita Aécio por temer miséria



Beto Macário/UOL O professor Erivaldo Souza, 49, de São José de Tapera (AL), afirma que os votos de Dilma na cidade são fruto da "transformação para melhor" por que a cidade passou
  • O professor Erivaldo Souza, 49, de São José de Tapera (AL), afirma que os votos de Dilma na cidade são fruto da "transformação para melhor" por que a cidade passou

Em setembro de 2001, São José da Tapera (a 220 km de Maceió), no sertão de Alagoas, foi escolhida pelo governo Fernando Henrique Cardoso como piloto para lançamento do Bolsa Alimentação, que beneficiava mulheres grávidas com repasses mensais, à época, de R$ 15 a R$ 45.

O município alagoano tinha o pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do país. Foi lá que, na versão tucana, surgiu o DNA do Bolsa Família, a ser criado apenas em 2003 no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) --unificando Bolsa Alimentação, Vale Gás e Bolsa Escola.

Longe da discussão entre tucanos e petistas sobre de quem é a paternidade do Bolsa Família, os eleitores de uma das cidades-modelo não escondem o medo de perder o benefício. No primeiro turno, 76% dos votos válidos foram Dilma Rousseff (PT).

O UOL visitou o município na quarta-feira (15) e encontrou um cenário similar ao de tantas outras cidades do interior do Nordeste, onde a dependência do Bolsa Família supera os 50% da população. 
Arte UOL

No local, circula fácil a informação de que o benefício poderá terminar num eventual governo tucano --o que já foi negado diversas vezes por Aécio.

Sem indústrias, a economia de Tapera cresceu nos últimos anos impulsionada pelo programa social do governo. Os índices de qualidade de vida também melhoraram. O percentual de pessoas extremamente pobres caiu de 67,8%, em 2000, para 39,7%, em 2010.

Entre os moradores, o medo paira. "É verdade que eles vão cortar o Bolsa Família?", perguntou à reportagem do UOL Cícera dos Santos, 64. Apesar de não receber o benefício por ser aposentada, ela tem uma filha beneficiária. "As pessoas ficam dizendo isso, mas não acho que vão acabar. Mas talvez diminuam", disse.
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Cidade de AL onde nasceu Bolsa Família segundo os tucanos descarta Aécio

A aposentada Cícera dos Santos, 64, tem medo de diminuir os benefícios do governo. A filha dela recebe o Bolsa Família em São José da Tapera, em Alagoas Beto Macário/UOL

Na dúvida, os moradores mais pobres não escondem que preferem a continuidade. A dona de casa Ivanilda Basílio, 48, recebe R$ 600 do governo para sustentar os oito filhos e diz que teme a vitória de Aécio. "Falam tantas barbaridades dele, tenho medo. Sem esse dinheiro, não teria como sobreviver, voltaria à miséria, como era antigamente. Deus nos livre, quero nem pensar."

Claudenilda dos Santos, 38, foi uma beneficiárias do governo desde a gestão FHC. Hoje eleitora de Dilma, ela só reclama do valor do benefício: R$ 112. "É muito pouco. Estou desempregada e tenho dois filhos para criar, poderia ser mais. Tem gente que ganha mais do que eu, acho injusto", contou a desempregada, que tem dois filhos.

Beneficiária 1 vota no PT


Garota-propaganda na campanha presidencial de José Serra (PSDB) em 2010, a beneficiária número 1 do Bolsa Alimentação, a desempregada Ermanda Maria de Sena, 48, conta que neste ano "desistiu" de votar no PSDB.

Eleitora de José Serra e Geraldo Alckmin nas últimas três eleições presidenciais, ela afirma que agora vota em Dilma. "Só vejo o povo dizer que é para votar em Dilma, falam tantas coisas desse Aécio. Não quero votar nele, acho que Dilma está bem", contou.

Em 2010, ela participou do programa eleitoral de Serra, mas relatou ao UOL que ficou frustrada porque pediram para ela mentir e a abandonaram após a gravação.

"A ex-prefeita de São José da Tapera pediu que dissesse que a casa da minha irmã, onde seria a gravação, era minha. Eu não quis e falei a ela: 'Não é verdade'", relatou, citando que "nem o dinheiro a passagem de volta me deram". "Tive de pedir emprestado para voltar", contou a beneficiária, que hoje mora em Teotônio Vilela (120 km de Maceió) e recebe R$ 372 do Bolsa Família.

Em meio a depoimentos de medo da volta do PSDB, o UOL encontrou apenas uma beneficiária do Bolsa Família que declarou voto a Aécio. "Não tenho medo de ele acabar com o Bolsa Família, porque recebo tão pouco. Acho que está bom já do PT. Votei em Lula e na Dilma, mas mudar o poder é bom. Governo reeleito demais não presta", comentou ela, enquanto escolhia o feijão verde na porta de casa. 

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