segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Debate foi ameno, mas nos comerciais e na web as pancadas continuam

Os casos derrogatórios já foram para a TV nos encontros anteriores
Agora, filmes na TV e acusações na internet farão o resto do serviço
Miguel Schincariol/AFP - 19.out.2014
O 3º debate presidencial entre Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) no segundo turno da corrida presidencial de 2014 foi, de fato, mais ameno. Os dois evitaram se atacar no plano pessoal no encontro promovido pela TV Record na noite de domingo (19.out.2014).
Mas ninguém deve se enganar a respeito desse tom mostrado no debate. Os dois candidatos simplesmente concluíram (com a ajuda de pesquisas qualitativas somadas à análise de seus marqueteiros) que o estrago necessário já estava feito. Agora, os ataques serão “terceirizados”. Comerciais na TV e no rádio e acusações na internet farão o resto do serviço.
Quem lê este post deve saber: tem sido massificante o bombardeio de mensagens vitriólicas nas redes sociais. E na TV, quem assiste aos intervalos comerciais certamente já viu um comercial do PSDB ou do PT fazendo ataque aos adversários.
Tanto Aécio como Dilma seguiram o básico do marketing: massificaram certas acusações pessoais em um uma rede nacional de TV (no SBT). Nesse debate  (16.out.2014), Aécio chamou Dilma de leviana, mentirosa, incompetente e levantou o caso do irmão da presidente que teria sido funcionário fantasma na Prefeitura de Belo Horizonte, sob controle do PT.
No mesmo encontro do SBT, Dilma conseguiu introduzir ao grande público um episódio de 2011, quando Aécio foi barrado em uma blitz, no Rio, e se recusou a fazer o teste do bafômetro –além de estar com a carteira de motorista vencida. A petista também falou recorrentemente sobre o tucano empregar parentes na máquina pública e sobre o caso do aeroporto construído no interior de Minas Gerais, numa propriedade que havia sido da família de Aécio.
O estrago que Aécio e Dilma poderiam ter produzido um contra o outro já está feito. Agora, os comerciais na TV e no rádio farão o restante do serviço, bem como os e-mails e posts virais na internet –e nos aplicativos de comunicação direta, como o WhatsApp (que está completamente fora do controle da Justiça Eleitoral).
É claro que o TSE pode sempre retirar um comercial do ar e punir o candidato que fizer os ataques –vários filmes já foram proibidos. Mas essa é uma ação inútil da Justiça Eleitoral, pois uma vez transmitida a propaganda, o estrago está feito e é irreparável.
Nas redes sociais o ambiente fica incontrolável. Alguém poderá dizer: mas a internet ainda tem impacto limitado no Brasil. Mais ou menos. O ano de 2014 ficará marcado por um fato relevante no mundo digital brasileiro: cerca de metade da população do país já conta com acesso à internet, segundo dados do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 2013, divulgado em 24.jul.2014.
Em sociedades desenvolvidas, esse é o “turning point” para a real influência da rede em assuntos gerais da sociedade. Nos Estados Unidos, metade da população passou a ter acesso à internet há cerca de 15 anos. Quando isso aconteceu por lá, a rede decolou e passou a ser relevante na política e na reformatação dos meios de comunicação. No Brasil, isso está acontecendo agora.
Em suma, ninguém se engane. O debate da TV Record teve um tom mais ameno apenas porque já não era mais necessário que naquele evento Aécio e Dilma partissem para o ataque frontal. A estratégia deletéria de ambos já estava aplicada e sendo usada em outras plataformas.
E para concluir, uma pergunta: é ruim a campanha negativa? Depende. É claro que mentiras devem ser repudiadas. Mas nada há de errado quando um candidato apontar o que considera de negativo no outro (seja do ponto de vista da capacidade de administração ou sobre aspectos pessoais que tenham interesse público). Até porque, o eleitor deve conhecer quem vai merecer seu voto.

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